Projeto de Lei nº 154 /2005

 

 

Concede o título de Cidadão Cearense a Maciej Antoni Babinski

 

 

Art. 1º - A Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, na forma regimental e ouvido o Plenário, concede título honorário de Cidadão Cearense a Maciej Antoni Babinski.

 

Art. 2º - Esta lei entra em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

 

 

Justificativa

 

 

Maciej Antoni Babisnki , nascido em Varsóvia, Polônia, em 20 de abril de 1931, filho mais velho de Witold e de Zofia Babinski, Maciej conviveu, desde criança, com os horrores de uma Europa conflagrada.

 

A Polônia vivia uma paz temporária e até se reunificara e se tornara independente, depois da Primeira Guerra Mundial, mas a calmaria durou pouco.

 

Apesar do pacto de não-agressão com os russos e os alemães (que até então eram aliados), a Polônia foi novamente invadida, em 1939.

 

Os Babinski tiveram tempo de fugir e as condições foram propiciadas por um tio diplomata (Wenceslau), embaixador da Polônia na Holanda e amigo pessoal da rainha Guilhermina.

 

Depois da necessária autorização da Gestapo, eles embarcaram, mas ficaram pouco tempo na Holanda, ela também invadida.

 

Foram para a França e logo tiveram que embarcar para a Inglaterra, onde seu pai foi ajudante-de-ordens do comandante do Exército polonês no exílio.

 

Na Inglaterra, Maciej e o irmão Tomascz (nascido em 1935) passaram a estudar. A irmã Anna (nascida em 1938) ficava com a mãe.

 

Ele foi iniciado na aquarela e desenho pelo Frei Raphael Williams, beneditino, da escola que a ordem mantinha em Ampleforth.

 

Terminada a guerra, os Babinski migraram para o Canadá, em 1948.

 

Essa experiência de fugas, exílios e de ser o “estrangeiro” marcou sua vida.

 

No Canadá, Maciej bateu à porta do Arcebispo Charbonneau, de Montreal, e pediu uma bolsa de estudos. Queria ser artista e passou a estudar na Mc Gill University.

 

Lá estudou desenho, pintura e aquarela, com John Lyman, Goodrich Roberts e Eldon Crier.

 

A demissão do Arcebispo mudou seus planos. Passou a ter que trabalhar para ter direito a usar o atelier do curso de artes e se ligou aos “automatistas”, espécie de anarquistas e surrealistas canadenses, liderados por Paul-Emile Borduas.

 

Depois de duas coletivas e uma individual numa casa improvisada em Montreal, a decisão de vir para o Brasil, onde construiria seu “paraíso” particular e onde poderia se refazer de tantos danos causados pela guerra, num Canadá que não vivia sua melhor fase.

 

Chegou ao Rio de Janeiro dia 6 de agosto de 1953.

 

Passou a trabalhar na IBM, por conta de uma carta de recomendação do pai a um amigo que também migrara para o Brasil.

 

No Rio, passou a se envolver com o mundo artístico. Conheceu Darel Valença, Newton Cavalcanti e Augusto Rodrigues, que mantinha uma “escolinha” de arte para crianças, experiência bem-sucedida.

 

Mas a grande influência foi o gravador Oswaldo Goeldi, filho de alemães, que revolucionou a gravura brasileira.

 

Goeldi era uma figura arredia, incompreendido pela família e dele Babinski herdou, mais que técnicas, uma ética.

 

Foi o tempo de conhecer sua primeira mulher, Vera Teixeira, cantora, que lhe deu duas filhas (hoje tem um casal de netos e uma bisneta).

 

Babinski expôs individualmente, no Rio, ainda em 1956 e a partir daí, até 1964, passou a fazer parte das várias edições do Salão Nacional de Arte Moderna.

 

Em 1965, o convite irrecusável para dar aulas na Universidade de Brasília, experiência revolucionária no campo do ensino superior, liderada pelo antropólogo Darcy Ribeiro.

 

Babinski dava aulas de desenho de observação para alunos de arquitetura e não para alunos de artes plásticas.

 

Mas o relato da experiência é muito estimulante. Poucos artistas tinham cursos superiores, mas isso não foi empecilho para a UnB marcar época na história da educação brasileira.

 

O clima era tenso. O “campus” já havia sido invadido antes.

 

Circulavam listas de possíveis professores ameaçados.

 

Babinski pediu demissão, em solidariedade aos amigos compulsoriamente afastados, e voltou para São Paulo, no final de 1965.

 

Em São Paulo, ligou-se a três experiências inovadoras: o Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha, no Brooklin; a Escola Graduada, no Morumbi e a Escola Brasil, criada, em 1970, por Carlos Fajardo, José Resende, Frederico Nasser, Geraldo de Barros, Nelson Leirner e Wesley Duke Lee.

 

Babinski dava oficinas de gravura.

 

As três experiências estavam sintonizadas com sua idéia de um ensino ligado a uma prática, com ateliês e acompanhamento respeitando a individualidade de cada aluno.

 

Nesse ínterim, o mercado paulistano era dominado pela galeria “Collectio”. Babinski chegou a receber encomendas de gravuras, mas durou pouco a estrutura super-dimensionada da galeria, cujo proprietário se gabava de ser “amigos de militares”.

 

Babinski se refugiou na Ilhabela e sua mulher sofreu uma crise psicológica, necessitando de uma assistência médica cara e sofisticada.

 

Os Babinski se mudaram para o Triângulo Mineiro. Primeiro, Araguari, depois Babinski foi convidado para dar aulas na Universidade Federal de Uberlândia.

 

Foi então (1982) que ele ganhou “notório saber” e pôde dar aulas na graduação em artes.

 

Nessa época, passou a pintar paisagens, o que vem fazendo até hoje e nunca cortou os vínculos com galeristas (Luisa Strina) e colecionadores paulistanos (Kim Esteve e Conrado Malzoni).

 

Com a Anistia, em 1979, Babinski passou a reivindicar seus direitos e foi reintegrado à UnB, onde deu mais uma temporada de aulas, antes de requerer sua aposentadoria.

 

Foi nesse ínterim, quando seu segundo casamento começava a dar sinais de crise, que conheceu Lídia Epifânio da Silva, natural de Várzea Alegre, Ceará, que trabalhava no caixa do restaurante de frutos do mar que freqüentava na Asa Norte.

 

O amor o trouxe ao Ceará para uma visita, onde tomou a decisão de um novo casamento e de uma mudança para o sertão sul do Ceará.

 

Chegaram em 1991, e depois de uma temporada no Crato, se mudaram, primeiro para cidade de Várzea Alegre e depois para o sítio Exu, a dezoito quilômetros da cidade, onde compraram uma terra e construíram uma casa.

 

Babinski se diz marcado pela “voz”, mais que pelo sol cearense, que chapa tudo e dificulta seu trabalho.

 

Fez muitas paisagens do seu sítio, expostos no Centro Cultural do Abolição (1995), no “hall” da Biblioteca da Unifor e no Museu de Arte da UFC, as duas últimas agora em 2005.

 

Também expôs suas gravuras no Museu do Ceará.

 

Pode-se falar de Babinski como um dos grandes nomes das artes brasileiras. O fato de ter escolhido o Ceará para viver, com o qual mantém uma relação de amor, é importante para criar um contexto favorável às nossas artes plásticas.

 

Homem maduro, coerente, artista refinado, cidadão do mundo e do Ceará, Babinski merece, sem dúvidas, ser homenageado com o título honorário de Cidadão Cearense.

 

 

Íris Tavares

Deputada Estadual - PT

Presidente da Comissão de Direitos

Humanos e Cidadania