Art. 1º - A Assembléia
Legislativa do Estado do Ceará, na forma regimental e ouvido o Plenário,
concede título honorário de Cidadão Cearense a Maciej Antoni Babinski.
Art. 2º - Esta lei entra
em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Maciej Antoni Babisnki ,
nascido em Varsóvia, Polônia, em 20 de abril de 1931, filho mais velho de
Witold e de Zofia Babinski, Maciej conviveu, desde criança, com os horrores de
uma Europa conflagrada.
A Polônia vivia uma paz
temporária e até se reunificara e se tornara independente, depois da Primeira
Guerra Mundial, mas a calmaria durou pouco.
Apesar do pacto de não-agressão
com os russos e os alemães (que até então eram aliados), a Polônia foi
novamente invadida, em 1939.
Os Babinski tiveram tempo
de fugir e as condições foram propiciadas por um tio diplomata (Wenceslau),
embaixador da Polônia na Holanda e amigo pessoal da rainha Guilhermina.
Depois da necessária
autorização da Gestapo, eles embarcaram, mas ficaram pouco tempo na Holanda,
ela também invadida.
Foram para a França e logo
tiveram que embarcar para a Inglaterra, onde seu pai foi ajudante-de-ordens do comandante
do Exército polonês no exílio.
Na Inglaterra, Maciej e o
irmão Tomascz (nascido em 1935) passaram a estudar. A irmã Anna (nascida em
1938) ficava com a mãe.
Ele foi iniciado na
aquarela e desenho pelo Frei Raphael Williams, beneditino, da escola que a
ordem mantinha em Ampleforth.
Terminada a guerra, os
Babinski migraram para o Canadá, em 1948.
Essa experiência de fugas,
exílios e de ser o “estrangeiro” marcou sua vida.
No Canadá, Maciej bateu à
porta do Arcebispo Charbonneau, de Montreal, e pediu uma bolsa de estudos.
Queria ser artista e passou a estudar na Mc Gill University.
Lá estudou desenho,
pintura e aquarela, com John Lyman, Goodrich Roberts e Eldon Crier.
A demissão do Arcebispo
mudou seus planos. Passou a ter que trabalhar para ter direito a usar o atelier
do curso de artes e se ligou aos “automatistas”, espécie de anarquistas e
surrealistas canadenses, liderados por Paul-Emile Borduas.
Depois de duas coletivas e
uma individual numa casa improvisada em Montreal, a decisão de vir para o
Brasil, onde construiria seu “paraíso” particular e onde poderia se refazer de
tantos danos causados pela guerra, num Canadá que não vivia sua melhor fase.
Chegou ao Rio de Janeiro
dia 6 de agosto de 1953.
Passou a trabalhar na IBM,
por conta de uma carta de recomendação do pai a um amigo que também migrara
para o Brasil.
No Rio, passou a se
envolver com o mundo artístico. Conheceu Darel Valença, Newton Cavalcanti e
Augusto Rodrigues, que mantinha uma “escolinha” de arte para crianças, experiência
bem-sucedida.
Mas a grande influência
foi o gravador Oswaldo Goeldi, filho de alemães, que revolucionou a gravura
brasileira.
Goeldi era uma figura
arredia, incompreendido pela família e dele Babinski herdou, mais que técnicas,
uma ética.
Foi o tempo de conhecer
sua primeira mulher, Vera Teixeira, cantora, que lhe deu duas filhas (hoje tem
um casal de netos e uma bisneta).
Babinski expôs
individualmente, no Rio, ainda em 1956 e a partir daí, até 1964, passou a fazer
parte das várias edições do Salão Nacional de Arte Moderna.
Em 1965, o convite
irrecusável para dar aulas na Universidade de Brasília, experiência
revolucionária no campo do ensino superior, liderada pelo antropólogo Darcy
Ribeiro.
Babinski dava aulas de
desenho de observação para alunos de arquitetura e não para alunos de artes
plásticas.
Mas o relato da
experiência é muito estimulante. Poucos artistas tinham cursos superiores, mas
isso não foi empecilho para a UnB marcar época na história da educação
brasileira.
O clima era tenso. O
“campus” já havia sido invadido antes.
Circulavam listas de
possíveis professores ameaçados.
Babinski pediu demissão,
em solidariedade aos amigos compulsoriamente afastados, e voltou para São
Paulo, no final de 1965.
Em São Paulo, ligou-se a
três experiências inovadoras: o Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha, no Brooklin;
a Escola Graduada, no Morumbi e a Escola Brasil, criada, em 1970, por Carlos
Fajardo, José Resende, Frederico Nasser, Geraldo de Barros, Nelson Leirner e
Wesley Duke Lee.
Babinski dava oficinas de
gravura.
As três experiências
estavam sintonizadas com sua idéia de um ensino ligado a uma prática, com
ateliês e acompanhamento respeitando a individualidade de cada aluno.
Nesse ínterim, o mercado
paulistano era dominado pela galeria “Collectio”. Babinski chegou a receber
encomendas de gravuras, mas durou pouco a estrutura super-dimensionada da
galeria, cujo proprietário se gabava de ser “amigos de militares”.
Babinski se refugiou na
Ilhabela e sua mulher sofreu uma crise psicológica, necessitando de uma
assistência médica cara e sofisticada.
Os Babinski se mudaram
para o Triângulo Mineiro. Primeiro, Araguari, depois Babinski foi convidado
para dar aulas na Universidade Federal de Uberlândia.
Foi então (1982) que ele
ganhou “notório saber” e pôde dar aulas na graduação em artes.
Nessa época, passou a
pintar paisagens, o que vem fazendo até hoje e nunca cortou os vínculos com
galeristas (Luisa Strina) e colecionadores paulistanos (Kim Esteve e Conrado
Malzoni).
Com a Anistia, em 1979,
Babinski passou a reivindicar seus direitos e foi reintegrado à UnB, onde deu
mais uma temporada de aulas, antes de requerer sua aposentadoria.
Foi nesse ínterim, quando
seu segundo casamento começava a dar sinais de crise, que conheceu Lídia
Epifânio da Silva, natural de Várzea Alegre, Ceará, que trabalhava no caixa do
restaurante de frutos do mar que freqüentava na Asa Norte.
O amor o trouxe ao Ceará
para uma visita, onde tomou a decisão de um novo casamento e de uma mudança
para o sertão sul do Ceará.
Chegaram em 1991, e depois
de uma temporada no Crato, se mudaram, primeiro para cidade de Várzea Alegre e
depois para o sítio Exu, a dezoito quilômetros da cidade, onde compraram uma
terra e construíram uma casa.
Babinski se diz marcado
pela “voz”, mais que pelo sol cearense, que chapa tudo e dificulta seu
trabalho.
Fez muitas paisagens do
seu sítio, expostos no Centro Cultural do Abolição (1995), no “hall” da
Biblioteca da Unifor e no Museu de Arte da UFC, as duas últimas agora em 2005.
Também expôs suas gravuras
no Museu do Ceará.
Pode-se falar de Babinski
como um dos grandes nomes das artes brasileiras. O fato de ter escolhido o
Ceará para viver, com o qual mantém uma relação de amor, é importante para
criar um contexto favorável às nossas artes plásticas.
Homem maduro, coerente,
artista refinado, cidadão do mundo e do Ceará, Babinski merece, sem dúvidas,
ser homenageado com o título honorário de Cidadão Cearense.
Íris Tavares
Deputada Estadual - PT
Presidente da Comissão de Direitos
Humanos e Cidadania