PROJETO DE LEI N.º 185/17

 

DENOMINA “FRANCISCO ALDEMAR RODRIGUES PINHEIRO”, A DELEGACIA DE POLÍCIA CIVIL DO MUNICÍPIO DE SOLONÓPOLE/CE.

A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ RESOLVE:

Art. 1º - Fica denominada “Francisco Aldemar Rodrigues Pinheiro” a Delegacia de Polícia Civil do Município de Solonópole no Estado do Ceará.

Art. 2º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário.

 

Sala das Sessões da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará,

 

AGENOR NETO

DEPUTADO

 

 

JUSTIFICATIVA:

Era 09 de abril de 1914, quando nem mesmo o município de Solonópole fora reconhecido como cidade - nasce o menino Aldemar, filho de João Batista Pinheiro e Maria Olinda Nogueira Pinheiro, teve como irmãos: Valdemar, Nemesio, Izaura e Riva. Para se ter noção da importância histórica deste ser para Solonópole, teve como tios: Manoela (mãe de Aníbal – filho ilustre da cidade), Odilon, Bemvindo, Mundinho (do Belém) e Zezinho (das Flores). Sua irmã Izaura, era mãe de Cleide, Zuleica e Izauda.

O menino Aldemar, nascera num período em que aquele povoado fora no passado denominado “Cachoeira do Riacho do Sangue”, em virtude (segundo fatos narrados) da existência de uma queda de água no leito do Riacho do Sangue e depois apenas Cachoeira. Mas como a história nunca é linear, existe mais de uma versão sobre o nome Riacho do Sangue e uma delas é a luta entre duas famílias pelo domínio da terra, tingindo de sangue as águas daquele rio, nas proximidades do lugar chamado Alto da Batalha, abaixo da cidade e que ainda hoje existe. A outra história versa sobre a luta entre índios e bandeirantes, num lugar conhecido como Logradouro. Somente em 30 de dezembro de 1943, através do Decreto n° 1.114, aquele povoado passa a se denominar Solonópole, que significa Cidade de Solon, em homenagem a Manoel Solon Rodrigues Pinheiro, figura ilustre, advogado, jornalista e professor nascido no município.

Portanto, escrever sobre Francisco Aldemar Rodrigues Pinheiro é falar também da trajetória desse imaginário popular Solonopolense, ora real, ora inventado, de um pequeno/grande povo, que foi se construindo neste rincão de uma América Latina tão aguerrida para dar sentido às suas vidas a partir de lutas, batalhas e trabalhos exaustivos em prol de uma construção social mais humanitária.

Na tentativa de reunir as pérolas de histórias de tamanha preciosidade, a partir de tantas sensações, cheiros e lembranças, foi necessário recolher fatos históricos e relatos de memórias que permanecem vivas e cheias de significados para uma cidade e uma família unida em torno das memórias sobre este ser que se construiu na labuta do dia-a-dia, com suor, amor e dedicação pelo outro e que tem suas marcas fincadas na história viva que permanecerá por toda a eternidade.

O relato descrito abaixo, contado por filho(a)s, neto(a)s e bisneto(a)s, sem nomeá-lo(a)s, será uma síntese de memórias escolhidas na tentativa de esboçar o valor de uma vida tão significativa e importante na construção viva de toda uma sociedade:

“Como Oficial de Justiça do povoado/cidade, Papai saia de casa para fazer diligências do fórum, sem nem um tostão no bolso, ia a pé, pela estrada velha do Logradouro e muitas vezes seguia até Pedra Verde. Quando chegava o inverno, atravessava o rio nadando com a roupa na cabeça. Lembro muito, no inverno, atravessava o rio a nado, chegava na casa de Izaura, morto de fome, se alimentava e o esposo dela arrumava emprestado um burro, um jumento ou um cavalo e ele ia para São Bernardo, Betânia, Assunção, Milhã, etc.

Andava pelos sítios, debaixo de sol e chuva, sem comer, sem beber nada; muitas vezes só comia quando retornava à casa de Izaura, que morava no sítio, nas proximidades de São Bernardo. Quantas vezes também não pegou animal emprestado com Eliomar, esposo de Cleide, pais de Dárcia (Primeira Dama), com Neco da Pedra Verde, tanta gente. Somente quando começou a surgir transporte motorizado, com o pouco que ganhava, tirava do próprio bolso para pagar a viagem, na época os motoristas eram Bebezinho, João de Deus, Inácio (irmão de Manezinho) e outros que nem lembro mais (os que faziam viagens naquela época), vez ou outra a Prefeitura cedia transporte. Quando era necessário, em algumas diligências era preciso a polícia ir junto, quando o caso fosse de prender alguém e trazer para a cadeia (mas tudo isso com a ordem do Juiz, claro), só relato isso para que se tenha noção que até esse tipo de tarefa Ele desempenhava”.

Relato de filho: “Manezinho e Tertinho fizeram muitas viagens com ele (Aldemar), pois nessa época atendia em Irapuan Pinheiro, São Bernardo, Milhã e Carnaubinha. Em vida, teve duas importantes funções - Oficial de Justiça e Barbeiro, que era pra conseguir dar conta da sobrevivência de sua enorme família (esposa e 10 filhos). Era muito trabalhador, também teve que se virar como agricultor, carpinteiro e acho que até pedreiro”.

Relato de filho: “Lembro de papai (Aldemar) passando dias fora de casa, quando retornava com o recebimento (valor) dos seus pagamentos, dinheiro quase nunca recebia e quando recebia era um valor bem simbólico, muitas vezes uma galinha ou até em alimentos”.

Relato de filho: “O que Papai (Aldemar) recebia como Oficial de Justiça era muito pouco e não dava para sustentar a família, nas horas livres, se virava como barbeiro, e no inverno plantava, milho, feijão, arroz, jerimum e outros alimentos para sustentar a família”.

Relato de filho: “Lembro muito de Antônio Pequeno, outro amigo dele (Aldemar) que também trabalhava como Oficial de Justiça e assim como ele, dedicou sua vida à tão importante função”.

Relato de filho: “Eu e o saudoso amigo Pacelli (em memória), fomos a muitas viagens com ele (Aldemar) fazer diligência. Passávamos muita fome por aquelas estradas, nos caminhos. Às vezes a gente chegava à casa de um amigo dele e era uma felicidade receber a notícia de que tinha feijão com farinha para nos saciar a fome, era uma beleza só, alegria inesquecível. Quando a pessoa dizia que só tinha feijão com farinha e um bife do zoião (sic), era maravilhoso”.

Relato de filho: “Creio que falar dessa memória, não seja tão fácil para os filhos e filhas mais novos, contar as histórias dele e sobre ele, é mais tranquilo para os que viveram mais tempo junto, porque nós, filhos e filhas mais novo(a)s, infelizmente não convivemos muito, Eu, por exemplo, tinha 16 anos quando ele partiu e já estava aposentado”.

Relato de filho: “Como toda família de sua época, existia uma educação que prescrevia um acordo estabelecido e que deveria ser seguido à risca: “quando alguém estava conversando com ele sobre trabalho, nenhum dos filhos poderia interferir, pois se isso viesse a acontecer, sabiam que uma simples olhada era suficiente para parar de se intrometer na conversa”.

Relato de Neto: “Só tenho lembranças ótimas dele, quando eu era criança e sempre ia passar férias em Solonópole, aguardava ansiosamente reencontrar aquele ser iluminado, bondoso, brincalhão e amoroso. Lembro como se fosse hoje dele sentado na calçada, se balançando, tomando café da manhã com todos na cozinha, coçando as costas em um canto de parede qualquer, armando as redes pra gente dormir e Ele fazia questão disso, nos colocando no colo e dizendo: "coma petim" (sic) quando estávamos dando trabalho pra comer. Era um homem forte, trabalhador, honesto, guerreiro que fez das tripas coração para "dar de comer" a tanta gente e ainda se preocupava com os outros. A grande sala de sua casa (ponto de encontro de muitos), ora se revezada como barbearia, ora como acolhimento dos que chegavam com necessidades de abrigo, lembro de escutar que lá, na época da construção da estrada de Solonópole, esta serviu de suporte pra muita gente que estava trabalhando na estrada e não tinha onde dormir. Por essas e muitas outras histórias, um ser humano como ele merece mais do que nunca ser homenageado, ter sua história honrada como memória de uma vida que sempre foi em prol do coletivo”.

Relato de filho: “E para quem ainda tem dúvida da importância deste grande ser humano, saiba que no seu período de vida, esta função de Oficial de Justiça de uma cidade, hoje cheia de conquistas e reconhecimentos, era feita de amor, suor e militância, o retorno financeiro era irrisório, praticamente se gastava mais para desempenhar a função do que se recebia. O seu primeiro contracheque, veio num período bem delicado de sua vida, ao qual já se encontrava com a saúde debilitada, internado por complicações cardíacas. Este foi o primeiro e o último (infelizmente), pois se foi como um pássaro, que segue seu vôo, alternando cada asa com a alegria dos que entram para a história como gente GRANDE”.

Relato de neto: “Na infância deste que organizou estes relatos, ficaram as últimas imagens de uma família reunida em torno do adeus saudoso e orgulhoso pelo ser humano íntegro, belo e sempre honesto”.

“Sei que teve 19 (dezenove) filhos e filhas: Jair (Titica), Olinda (Inda – em memória), Socorro (Coia), João Ramos (Jão), José Wilton (Zé), Juliana, Lucimeire, Auxiliadora, Bernardino (Berna), Aldemar Filho (Mazinho) e mais 9 (nove) dele(a)s que tiveram que dizer adeus ainda na infância, muitas vezes por simples complicações na saúde, todos ele(a)s que amou o quanto pôde e uma companheira/esposa incrível de nome Maria Aldeniza Feitosa Pinheiro que na proximidade dos seus dias aos 90 (noventa) anos bem vividos, segue firme na resistência de dias tão complicados, disposta a nos exemplificar e iluminar sempre”.

É difícil reunir tanta vida em palavras, talvez impossível. Quem sabe a ciranda da história mostrará.  Que venham estes dias.

Só sei que seu último suspiro data de 14 de outubro de 1987, marco também do nascimento do seu primeiro bisneto.

Diante da grandeza da história desse ilustre cidadão do Município de Solonópole, rogamos ao Plenário que aprove o presente Projeto de Lei a fim de ser dado o seu nome: Francisco Aldemar Rodrigues Pinheiro à Delegacia de Polícia Civil de Solonópole.

AGENOR NETO

DEPUTADO